top of page

Bastidores

Detalhes e impressões que marcaram a trajetória de realização do documentário.

A visita
O reencontro
A edição

No dia 12 de junho deste ano, visitei uma cadeia feminina pela primeira vez. A unidade escolhida foi a Penitenciária Feminina do Butantã, na zona oeste da capital. 

 

Das oito mulheres que estavam na maternidade do presídio, duas delas me chamaram atenção por motivos opostos. Amanda, 30 anos, mais velha do grupo, era a mais falante. Parecia saber que eu era uma jornalista e fazia questão de pontuar os problemas vividos pela mães da unidade. Foi ela quem me disse que a campainha de emergência da maternidade, que na unidade se chama Casa Mãe, estava desativada a mais de um mês. Sendo assim, muitas crianças estavam sendo internadas com problemas graves devido a demora das enfermeiras no atendimento - já que as detentas precisavam gritar para chamar a atenção dos seguranças que por sua vez acionavam as enfermeiras. 

 

A mais jovem do grupo tinha 18 anos. M.S. era extremamente retraída e respondia com o mínimo de palavras possíveis perguntas casuais como o nome e a idade de seu filho.

 

A menina de pouco mais de 1,55 de altura carregava com dificuldade o filho de quatro meses, que se recuperava bem de uma anemia. O menino sorridente parecia uma boneca nos braços de uma criança, cuja maior tristeza foi saber que aquele dia era 12 de junho, dia dos namorados. 

 

Com os olhos cheios d'água, a jovem lembrava com saudade da última vez que viu o pai de seu filho, que nunca foi visitá-los na cadeia.

 

Meu reencontro extra-muro com Amanda foi, sem dúvida, o momento mais emocionante deste projeto. Eu conheci esta mulher, que foi presa aos 18 anos, durante minha primeira visita feita junto as agentes da Pastoral Carcerária na penitenciária feminina do Butantã, na zona oeste da capital.

 

Exatamente um mês após a visita a unidade, eu estava na Praia Grande, litoral paulista, onde fui conhecer o projeto Mães do Cárceres, coordenado pela rapper Andrea MF, personagem chave deste documentário. Foi ela quem me apresentou outras duas mulheres que entrevistei para o documentário: Maisa, que sofreu um aborto dentro de sua cela após violência policial e dona Lourdes, cuja neta e a filha eram internas da penitenciária do Butantã. Após alguns minutos de conversa, percebemos com espanto que eu já havia conhecido a filha e a neta da entrevistada.

 

Por feliz coincidência, conheci dona Lourdes, mãe de Amanda. Mantivemos contato até o dia 7 de agosto, data limite para Amanda entregar sua filha que havia completado seis meses de idade. Acompanhei dona Lourdes na saída do presídio, quando foi buscar sua neta que se despedia do complexo penitenciário. Felizmente aquele dia marcou também o primeiro benefício de "saidinha" de Amanda, que havia ficado presa durante nove anos sem indulto. 

 

O momento foi de muita alegria e extrema tristeza, pois apesar do feliz reencontro com a família, aquele final de semana era o último em que mãe, filha e neta passariam juntas durante os próximos meses. 

 

Na segunda-feira seguinte, 10 de agosto, Amanda voltou para a unidade, mas desta vez foi levada diretamente para as celas comuns onde cumprirá o resto de sua pena.

Como recortar a história de mulheres que tiveram seu destino moldado pelo preconceito e desigualdade social?

 

Como dar voz a mulheres que enquanto "presas" se definem como pessoas invisíveis?

 

Este documentário seleciona relatos de mulheres que enfrentaram muitas dificuldades para exercer a maternidade enquanto tinham sua liberdade restrita pelo Estado.

 

As queixas variam entre  falta de infraestrutura, assistência médica e jurídica.  A problematização destas questões não poderiam ser inclusas neste primeiro projeto que deixa em aberto os próximos capítulos da vida destas mulheres, de seus filhos e de centenas de famílias. 

bottom of page